Uma mãe está lutando contra o tempo para salvar a vida de sua filha, um bebê de apenas um ano e nove meses que sofre de cardiopatia congênita. Entre idas e vindas de consultas, Beatriz Nunes vê a saúde da pequena Jade piorar cada vez mais.
A família, que mora atualmente no Distrito de Calógeras, no município de Arapoti, já vem lidando com a situação há mais de um ano, mas a saúde da criança vem apresentando cada vez mais complicações, o que têm se tornado ainda pior nos últimos meses. Nessa corrida contra o tempo, a mãe teme pelo pior e pede socorro.
Tudo começou quando a criança tinha seis meses de idade e, ao passar por uma consulta no Pronto Socorro de Wenceslau Braz, a equipe médica descobriu que a menina tinha um problema no coração. A princípio, foram realizados os trâmites para que Jade realizasse o procedimento em um hospital na cidade de Londrina, mas como conta Beatriz um imprevisto mudou os rumos da situação.
“Levamos a Jade ao médico e descobrimos que ela tinha esse problema no coração. Aí começou a rotina de exames e encaminhamentos para gente conseguir uma cirurgia. Na época, estávamos morando em um sítio em Wenceslau Braz, mas como a necessidade de levar ela para as consultas era constante, o patrão do meu marido acabou mandando ele embora e tivemos que voltar para casa da minha mãe em Calógeras”, conta Beatriz. “Como mudamos de cidade, a Jade passou a realizar as consultas pelo município de Arapoti e, com isso, informaram que o processo iria ter que começar do zero”, lamentou.
Com essa situação, Jade começou a realizar acompanhamento com outros médicos e a mãe foi encaminhada para o hospital Waldemar Monastier, em Campo Largo. “Mudou tudo e acabamos sendo encaminhados para esse hospital. Lá chegamos até a ser maltratadas pela médica, pois falaram que o hospital não realizava esse tipo de tratamento, mas era o único que a prefeitura tinha convênio”, relatou.
No caso de Jade, a cirurgia necessita ser realizada no Hospital Pequeno Príncipe, na cidade de Curitiba, mas a prefeitura de Arapoti não tem convênio com o hospital. “A gente até conversou com um médico que fez um levantamento para fazer a cirurgia, que seria mais de R$ 100 mil, mas ninguém parece querer ajudar. A prefeitura tem dinheiro para fazer festas na cidade, mas não tem para ajudar a salvar a vida da minha filha. Um pastor da nossa igreja chegou a levar o caso direto para o prefeito, mas até agora nada, nem um telefonema, nem uma vista. Um funcionário de nome Tiago, da saúde de Arapoti chegou a me bloquear no WhatsApp”, revelou a mãe.
Beatriz ainda contou a reportagem que os médicos que atenderam Jade emitiram parecer de que a menina precisava fazer a cirurgia o quanto antes, pois o problema poderia agravar o quadro clínico do bebê e se tornar ainda mais grave. Infelizmente, devido a demora, foi o que aconteceu. “Lá no começo foi identificado o problema no coração e, como não conseguirmos realizar a cirurgia, esse problema passou para uma veia no pulmão dela”, contou a mãe.
Com o tempo passando e o caso sendo “jogado” de um para o outro, realmente o quadro clínico de Jade piorou e outras partes do corpo da menina seguem sendo afetadas pelo problema. “Hoje ela corre o risco dessa veia do pulmão se romper. Além disso, uma das médicas falou que ela poderia ter atrofia muscular e não se desenvolver e é isso que está acontecendo”, detalhou Beatriz. A pequena Jade tem um ano e nove meses e está com pouco mais de sete quilos. Uma de suas perninhas parou de crescer e já é notável o quanto está menor que a outra. “Falamos isso para a médica em uma das consultas, mas ela disse que não tem nada haver com o problema dela”, completou.
Imagem de Raio X mostra que a perda esquerda da criança já não esta se desenvolvendo e é visivelmente menor que a outra. Seguno relatos da mãe, uma das médicas disse que se trata de um efeito causado pela cardiopatia
A série de negligências tem feito com que a vida dos pais, e principalmente da menina, tenha se tornado um pesadelo. “A Jade já não come e o leite dela é muito caro. Cada latinha custa mais de R$ 130 e não estamos conseguindo auxílio para comprar o leite. Chegamos a pedir ajuda nas redes sociais, mas falaram que estamos expondo a criança. Ela não consegue dormir direito e, para cochilar um pouco, tenho que ficar sentada com ela sentada no meu colo. A respiração dela é ofegante, não consegue viver a vida normal de uma criança da idade dela”, contou a mãe emocionada.
Após pareceres de médicos indicarem que a menina precisa realizar a cirurgia com urgência, mais precisamente dentro de dois meses e sem solução por parte do poder público municipal de Arapoti, Beatriz procurou o Ministério Público da cidade e uma decisão da Justiça determinou que o Hospital Pequeno Príncipe realizasse o agendamento, porém, o que foi marcado é uma consulta para o dia 22 de novembro.
A pedido da mãe, orientada pela Justiça, não serão divulgadas as imagens da criança nesta matéria.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES DE ARAPOTI
A Folha entrou em contato com a secretária municipal de Saúde de Arapoti, Andrea Cristina Silva, mas a mesma se encontra em viagem a Curitiba e a reportagem ainda não teve retorno.
A reportagem também conversou com o servidor da secretaria de Saúde de Arapoti Tiago Inocêncio Moreno, responsável pelo setor de agendamento e o qual a mãe da menina disse que a bloqueou no WhatsApp por questionamentos em relação ao andamento no atendimento da criança. “Houve sim o bloqueio, pois como não consegui falar com ela (a mãe) pelo telefone da prefeitura, entrei em contato pelo meu número pessoal, mas estavam me mandando mensagens fora de hora. Depois disso, o contato passou a ser feito pelo número oficial da prefeitura, mas já a desbloqueie”, pontuou.
Reportagem tentou contato com a secretaria municipal de Saúde de Arapoti, mas a secretária responsável pela pasta está em viagem a Curitiba e até o fechamento desta edição não houve retorno - Foto: Reprodução/Internet
A reportagem também tentou contato com o Ministério Público de Arapoti para saber como está o andamento dos pedidos judiciais para a cirurgia da criança, mas até o fechamento desta edição não houve retorno.
SOBRE A DOENÇA
Na medicina, a cardiopatia congênita é o termo que se refere a qualquer anormalidade na estrutura ou função do coração. Geralmente, a doença surge nas primeiras oito semanas da gestação, período em que ocorre a formação do coração.
A doença pode afetar a vida do bebê enquanto este ainda é um feto, pois causa disfunções em seu desenvolvimento. Os problemas podem ocorrer tanto durante a gestação, quanto depois do nascimento em qualquer faixa etária da vida do indivíduo.
Existem várias consequências causadas por diferentes tipos de cardiopatia. No caso de Jade, a anomalia prejudica o fluxo de sangue entre o coração e os pulmões da criança.
Nos bebês, os principais sintomas e efeitos da doença são cianose, que é a coloração roxa na ponta dos dedos ou nos lábios; suor excessivo; cansaço excessivo durante as mamadas; Palidez e apatia; Baixo peso e pouco apetite; Respiração rápida e curta mesmo em repouso; Irritação.
A doença ainda pode causa, durante qualquer faixa etária, os sintomas de coração acelerado e boca roxa após esforços; infecções respiratórias frequentes; cansaço fácil em relação as outras crianças da mesma idade; não desenvolve, nem ganha peso normalmente.