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Calor intenso prejudica produção de alimentos do dia-a-dia dos brasileiros

Especialista explica que mudanças climáticas causam impactos em lavouras de soja, milho, arroz e café

Por: Marcelo Aguiar Fonte: Redação com Agência Brasil
26/02/2025 às 17h28
Calor intenso prejudica produção de alimentos do dia-a-dia dos brasileiros
Foto: Reprodução/Governo de Santa Catarina.

O excesso de calor registrado nos últimos dias tem causado sérios impactos nas lavouras de soja, milho e arroz na Região Sul do Brasil, além de prejudicar plantações de café e frutas na Região Sudeste. Esse fenômeno é um reflexo das mudanças climáticas que, a cada ano, têm gerado efeitos adversos na produção de alimentos. A climatologista Francis Lacerda, pesquisadora do Instituto Agronômico de Pernambuco, alerta que as estratégias de agroecologia podem ajudar a retardar esses efeitos e diminuir o risco de insegurança alimentar, embora esse modelo tenha prazos limitados para sua efetividade.

De acordo com a especialista, uma das primeiras ações essenciais para mitigar os impactos das mudanças climáticas é o reflorestamento. Lacerda destaca o consórcio agroecológico como uma das principais práticas a serem adotadas. Essa técnica consiste no plantio simultâneo de diferentes espécies, como árvores frutíferas e leguminosas, em que as plantas se beneficiam mutuamente. “Plantar uma árvore frutífera ao lado de uma leguminosa como o feijão ou o milho cria um ambiente em que as plantas interagem de forma a ajudar umas às outras. Algumas têm raízes profundas, que buscam água mais fundo no solo, enquanto outras mais rasas, que não aguentam tanta radiação, se beneficiam da sombra das árvores grandes”, explica.

A especialista também defende o modelo de sistemas agroflorestais, que combina diferentes tipos de cultivo com reflorestamento, trazendo benefícios ambientais, como a proteção do solo, e econômicos, como a diversificação da produção e a redução do uso de agrotóxicos. “A diversificação de culturas favorece a fertilidade do solo e reduz os riscos de pragas e doenças, garantindo ao agricultor um controle maior sobre as condições climáticas extremas”, pontua.

Segundo Lacerda, a maioria dos alimentos consumidos pelas famílias brasileiras vem de pequenas propriedades agrícolas, onde a produção enfrenta os maiores desafios devido às mudanças no clima. “Os agricultores familiares estão cada vez mais surpresos com as alterações no clima, já que as práticas tradicionais de plantio e colheita não funcionam mais como antes”, observa a climatologista. Ela explica que as ondas de calor intensificam a proliferação de organismos como insetos, fungos e bactérias, que se tornam mais resilientes e prejudicam ainda mais as lavouras.

Além das práticas de agroecologia, Lacerda defende que políticas públicas sejam implementadas para ajudar as comunidades rurais a captar e armazenar sua própria água e gerar sua energia, reduzindo a dependência das condições climáticas adversas. “A autonomia é a chave para a sobrevivência dessas comunidades. Elas precisam ser capazes de produzir seus próprios alimentos e, ao mesmo tempo, realizar o reflorestamento de suas propriedades. Essa prática não é cara e muitos agricultores já estão dispostos a adotá-la”, afirma.

A climatologista também alerta para o impacto das mudanças climáticas na biodiversidade vegetal dos biomas brasileiros. Ela destaca o desaparecimento de espécies adaptadas ao clima quente e seco, como o umbuzeiro, planta símbolo do semiárido brasileiro. O umbuzeiro é conhecido por sua capacidade de armazenar água em suas raízes, mas, segundo Lacerda, está desaparecendo devido às condições climáticas cada vez mais extremas. “O umbuzeiro, que era uma referência de resistência à seca, já não está mais conseguindo se adaptar às variações climáticas atuais”, afirma.

Lacerda também observa que as lições aprendidas com a agroecologia podem ser aplicadas nas áreas urbanas. Ela sugere que espaços nas cidades sejam reservados para o cultivo de alimentos, como quintais produtivos e farmácias vivas. Essas iniciativas, segundo ela, podem garantir maior segurança alimentar para a população urbana, mas é necessário um suporte por meio de políticas públicas adequadas. “É preciso ter políticas que orientem e financiem esses projetos. Quem tem recursos pode buscar alimentos onde for necessário, mas sem justiça social, não é possível combater as mudanças climáticas de forma eficaz”, enfatiza a climatologista.

Lacerda conclui que é essencial pensar em formas inovadoras de produzir e garantir a segurança hídrica, energética e alimentar tanto para as populações rurais quanto para as urbanas, com foco em práticas sustentáveis que promovam a resiliência diante das mudanças climáticas. Essa combinação de estratégias agroecológicas, políticas públicas e inovação pode ser a chave para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar para as gerações futuras no Brasil.

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