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Wenceslau Braz, PR
Visto pela sociedade como sinônimo de horror, o Instituto Médico-Legal (IML) ou Polícia Científica é uma instituição que tem a função de manter a ordem pública garantindo o bem-estar da sociedade de maneira geral. A busca pela justiça, o trabalho coerente e ético e a conduta prezando pelo ser humano na sua singularidade, são características que transpassam o cotidiano dessa instituição e de todos os profissionais que nela atuam.
Pensando nisso, a Folha conversou com o Perito Chefe da Polícia Científica em Jacarezinho, Evandro Antonio Lara Seabra, que contou um pouco mais sobre os desafios diários dessa profissão tão importante, mas pouco valorizada. “Inicialmente, obrigado pela oportunidade de comunicar para o Norte Pioneiro Paranaense sobre os serviços que são realizados pela Polícia Científica do Paraná através da nossa Unidade de Jacarezinho. Em nossa atual gestão, o Instituto Médico Legal e o Instituto de Criminalística tornaram-se um só, e somos os responsáveis pela execução de Perícias Oficiais na Secretaria de Segurança Pública, que por norma estão associadas aos exames periciais de natureza criminal”, começa.
Os Institutos Médicos Legais de todo Brasil têm uma jornada de trabalho diferenciada, pois a todo momento precisam estar prontos para atender os chamados. Questionado sobre essa questão, o Perito Seabra explicou como funciona esse segmento. “A Polícia Científica atua 24 horas por dia, sete dias por semana, chuva ou sol, frio ou calor. Concentramos os esforços para a melhor e mais rápida resposta à sociedade através das escalas de plantão, e também em horários comerciais com atendimentos e agendamentos de exames de lesões corporais, violências sexuais entre outros da Medicina Legal, assim como na Criminalística, exames de adulterações de veículos, incêndios, balística, acidentes de trânsito, etc”, disse.
Por vezes, a rotina desses profissionais ocorre de forma árdua, onde a carga horária de trabalho excede o que está estabelecido, fazendo com que os colaboradores desempenhem suas funções acompanhadas de esgotamento e cansaço. “Lidamos diariamente com as vítimas da criminalidade, e como também somos humanos, um desafio constante é enfrentar com serenidade os problemas e as dificuldades sofridas pelas vítimas e pelos familiares de cada caso. Precisamos de um psicológico bem treinado para superar essas adversidades dos nossos atendimentos, e também para resolver questões e obstáculos internos, administrativos e comuns em toda repartição do Serviço Público”, explica Seabra.
Os profissionais que trabalham nas áreas onde a morte ocorre frequentemente, devem possuir controle emocional, já que em certas situações há o desperte de sentimentos de angústia, aflição e desconforto emocional. “Apesar de lidarmos constantemente com a criminalidade, a morte e sofrimento, e apesar de fortalecer nosso psicológico e nossa resiliência sempre que possível, como já dito, somos todos humanos, temos nossas próprias famílias e muitos somos pais e mães, filhos e netos, esposos e esposas. Então, particularmente, as ocorrências em que envolvem as inocências, seja das crianças ou de quaisquer outras pessoas, acabam causando impactos emocionais. Nestas ocasiões precisamos separar o profissional do pessoal, para não deixar que nossas emoções pessoais interfiram no nosso discernimento, análise e conclusões periciais”, conta o Perito.
Além de ser um trabalho difícil psicologicamente, as atividades da profissão podem proporcionar danos à saúde e até riscos de vida. “Temos contato direto com secreções e fluidos corporais, com substâncias e reagentes químicos, com eletricidade e com os riscos de trabalhos em estradas e em áreas de perigo. Apesar disso, as experiências nesta área começam até mesmo durante os processos seletivos e etapas do concurso, e quando passamos pelos cursos de formação temos os primeiros contatos com a atividade final que realizamos. Então todos esses fatores intrínsecos da profissão aprendemos a contornar, com a utilização de equipamentos de segurança e proteção individual e constantes aperfeiçoamentos, treinos e capacitações, tudo para só então chegar na parte prática”, relata Seabra.
Questionado sobre a escolha dessa profissão, Evandro relata que, em geral, é a profissão que os escolhe. “Cada pessoa tem o seu chamado particular, sua vocação, e particularmente o meu foi em tentar ajudar de uma melhor forma a sociedade utilizando meus conhecimentos e capacidades físicas e mentais. A carreira policial é fascinante e as oportunidades de fazer o melhor trabalho possível aparecem a todo momento”, pontua.
Aos que desejam seguir a mesma carreira, o Perito Chefe deixa um conselho. “Estamos sempre disponíveis ao público em geral para mais informações sobre nossa carreira e formas de acesso. Mas adianto que o ingresso para os cargos da nossa carreira é feito somente por concurso público. Então a quem tem a vontade e o interesse de trabalhar conosco, aconselho: estudem constantemente, treinem para as provas de concursos públicos, acompanhem as aberturas dos editais. Desenvolva o cognitivo, o psicológico, a resiliência e resista às frustrações, já que toda caminhada tem pedras e obstáculos, mas sempre começa com o primeiro passo”, finaliza.
