O Brasil enfrenta um cenário preocupante em relação ao hábito da leitura. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura 2024, realizada pela Fundação Itaú e pelo Datafolha, mais da metade dos brasileiros não leem livros. Além disso, o estudo aponta que o Brasil perdeu 6,7 milhões de leitores nos últimos anos. A Bíblia é citada na pesquisa como a obra mais lida, mas a diversidade de leituras, que estimula a formação do pensamento crítico e a ampliação de horizontes, está em declínio.
A mudança desse cenário depende da renovação das formas de incentivar a leitura, afirmam especialistas. Conversamos com duas educadoras experientes para reunir algumas dicas e sugestões para quem deseja estimular o hábito da leitura nas crianças e adolescentes, de preferência fora das telas dos tablets e celulares.
“Alunos que leem com regularidade demonstram mais facilidade em compreender textos, interpretar enunciados e construir argumentações consistentes”.
Luciana Gomes, diretora institucional do Ensino Fundamental I do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, destaca a importância de cultivar o hábito da leitura desde a infância: “A leitura é essencial para a formação da cidadania e para o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Ler também estimula a criatividade, a interpretação e a capacidade crítica, desde a infância, além de ampliar o vocabulário e melhorar a expressão escrita.”
Para Luciana, a leitura oferece um dos mais importantes exercícios para o cérebro. “Ela não só melhora o funcionamento da memória e da atenção como também fortalece a resolução de problemas. Além disso, a leitura amplia a visão de mundo do estudante, permitindo que ele se coloque no lugar do outro e desenvolva empatia”, afirma.
Estudos mostram que a leitura constante contribui diretamente para o aprimoramento de competências como o raciocínio lógico e a organização do pensamento. “Essas habilidades são fundamentais para o sucesso acadêmico e para o exercício da cidadania. Hoje, em tempos de informação acelerada, a capacidade de fazer conexões e analisar criticamente as informações é cada vez mais valorizada”, explica.
Além disso, a leitura pode ser um fator crucial para melhorar o desempenho nos diversos componentes escolares. Luciana Gomes ressalta que é possível observar a influência no desenvolvimento global dos estudantes que têm o hábito de ler e no dos que não têm. “Alunos que leem com regularidade demonstram mais facilidade em compreender textos, interpretar enunciados e construir argumentações consistentes”, afirma.
Em uma era marcada pelo entretenimento digital e pelo consumo massivo de novelas, os hábitos culturais dos brasileiros vêm se transformando. A pesquisa Retratos da Leitura deste ano mostra que assistir a filmes no streaming é o segundo hábito cultural preferido do brasileiro, enquanto a busca por programas culturais presenciais tem sido prejudicada por fatores como a violência e o preço dos ingressos.
Maria Lucia Mastropasqua, diretora do Ensino Fundamental I e II do Colégio Visconde de Porto Seguro, observa que a popularização do conteúdo audiovisual pode, de fato, afetar a leitura, embora acredite que seja possível equilibrar as duas atividades. “A chave é integrar a leitura ao cotidiano das crianças e adolescentes de forma prazerosa e natural. Isso pode ser feito por meio de livros que se relacionem com os interesses deles, como adaptações literárias de filmes ou séries populares”, sugere.
Para estimular o hábito da leitura em casa, Maria Lucia recomenda que as famílias criem um ambiente favorável à leitura. “Isso significa ter livros ao alcance, dedicar um tempo específico para leitura e até mesmo compartilhar o prazer de ler juntos, criando um momento de conexão familiar”, afirma.