Nos últimos anos, com a chegada e influência contínua da “Era Digital”, o uso das redes sociais e jogos digitais tem se tornado parte essencial do cotidiano de muitas crianças. Com acesso cada vez mais fácil e horas diárias passadas diante de telas, as práticas de leitura e escrita têm sido impactadas de maneira significativa, regredindo o aprendizado das crianças e aumentando a preocupação entre os educadores.
Palavras abreviadas como “vc”, para você, ou “sla”, para “sei lá”, passaram a ser parte do vocabulário digital das crianças e adolescentes, influenciando diretamente suas habilidades linguísticas. A questão, segundo especialistas, é que essas abreviações e o uso intensivo de dispositivos digitais trazem riscos para o desenvolvimento integral da leitura e da escrita, fundamentais para a formação escolar e social das crianças.
Portanto, para sanar todas as dúvidas sobre o real impacto negativo que essas práticas em excesso podem trazer para o desenvolvimento das crianças, a reportagem da Folha conversou com a Psicopedagoga Simone Luiza de Souza Silva, conhecida por professores e alunos como Tia Si, que explicou como as redes sociais e os jogos afetam o aprendizado.
“Tudo em excesso prejudica e o uso em excesso das redes sociais pode sim afetar no aprendizado da criança, além de que pode prejudicar fatores além do aprendizado, como a visão e a coordenação motora da criança”, explicou Simone.
Segundo a especialista, o impacto não se resume apenas à dificuldade em aprender a grafia correta das palavras. “Com o uso excessivo das expressões simplificadas, como o “vc”, por exemplo, a tendência é que a defasagem apenas aumente e surjam lacunas no aprendizado que impedem, ou trazem grande dificuldade para a criança durante a escrita manual”, completou.
Outro ponto destacado por Simone é a substituição da escrita manual pela digitação, que limita o desenvolvimento da motricidade fina e das habilidades cognitivas associadas à memória. “A substituição da escrita manual pela digitação traz muitas ‘sequelas’ e vícios negativos para a criança, que necessita, e muito, da prática manual”, explicou.
Além disso, o processo de aprender a escrever e desenhar letras manualmente exige mais atenção e concentração, habilidades que acabam sendo subdesenvolvidas quando a digitação é introduzida de forma precoce.
“A prática manual é essencial para a formação da criança, pois treina a atenção, concentração, coordenação motora ampla e fina, trazendo muitos benefícios para a criança, ao contrário da digitação, onde é mais fácil e rápido de escrever”, reforça a especialista.
Outro aspecto importante mencionado por Simone é que a leitura feita em dispositivos eletrônicos tende a ser mais superficial, o que dificulta o entendimento e a retenção de informações. “A tela do celular não substitui os materiais essenciais, como livros e, como já disse, o uso em excesso pode até mesmo prejudicar a visão das crianças”, observa Simone.
Esse cenário influencia diretamente a alfabetização e a comunicação das crianças. Com o vocabulário reduzido e uma exposição limitada à norma culta, as crianças podem ter dificuldade em expressar suas ideias de forma clara e coesa, tanto na fala quanto na escrita. As abreviações e o uso de gírias digitais, tão comuns nos jogos e nas redes, acabam se tornando uma segunda “língua” que nem sempre é compreendida fora do contexto digital, prejudicando a comunicação formal e informal.
Simone ainda recomenda algumas práticas para equilibrar o uso das redes sociais e promover o desenvolvimento da linguagem. “Definir horários para o uso do celular, praticar o ato da leitura em livros e controlar o uso da tecnologia são medidas importantíssimas para evitar que a criança sofra no futuro”, recomenda a especialista.
Ao promover atividades que estimulem a leitura e a escrita e ao controlar o tempo gasto com dispositivos digitais, os pais e educadores podem garantir que as novas gerações desenvolvam uma base sólida na comunicação e no entendimento textual.