Nos últimos anos, com o avanço da sociedade, a tecnologia se tornou parte integrante da vida cotidiana, trazendo consigo uma série de inovações que facilitam o dia a dia. No entanto, essa transformação também tem gerado consequências profundas nas relações familiares, muitas vezes levando à perda de costumes e tradições que foram passadas de geração em geração.
À medida que a tecnologia avança, a relação familiar também muda, e os costumes deixados pelos antepassados começam a desaparecer do meio social, ficando apenas na lembrança dos mais velhos. A convivência familiar, que era marcada por momentos de descontração e diálogo, tem sido substituída, cada vez mais, pelas interações virtuais, que acabam agrupando quem está longe e apartando quem está por perto.
“À noite, os parentes vinham em casa e nos reuníamos sob o luar para ouvir as histórias que os mais velhos contavam. Naquela época, não tínhamos celulares ou televisões, nossa diversão era ouvir as histórias e lendas que nossos pais e avós nos contavam, era maravilhoso”, recorda Maria Francisca Prestes, senhora de 73 anos que compartilhou sua infância com a reportagem.
Maria Francisca, ou Chiquinha, como é conhecida em Wenceslau Braz, passou sua infância no bairro do Roncador, no município de Arapoti, nos Campos Gerais do Paraná, onde, segundo ela, viveu momentos inesquecíveis.
Brincadeiras no quintal e parlendas eram parte do cotidiano das crianças, que brincavam felizes. “Quando a lua estava bem clarinha lá fora, saíamos para brincar de esconde-esconde, pular corda, brincar de amarelinha e tudo mais. Era muito gostoso quando os primos se reuniam para brincar. Hoje em dia, falo porque minhas netas fazem isso, as crianças só querem mexer no celular, assistir vídeos e interagir por ali mesmo”, conta Chiquinha.
Segundo ela, durante sua infância, o respeito aos adultos era o principal fator. Conforme conta Chiquinha, quando a família recebia visitas, as visitas eram as primeiras a se servirem durante as refeições e, durante as conversas, as crianças não se manifestavam, demonstrando respeito pelos mais velhos. “Hoje não acontece isso. Muitas das crianças não respeitam a idade e experiência dos outros”, comenta.
Em uma geração um pouco mais à frente, porém com diferenças significativas, Thassiany Christielly Raizer Prestes, filha de Chiquinha, de 37 anos, também relata perceber diferenças significativas entre o comportamento das crianças e as tradições deixadas pelos pais.
“Minha infância foi ótima. Eu e minhas amigas rabiscávamos o chão com giz, brincávamos o dia inteiro, nos juntávamos para brincar na praça e passávamos o dia fora de casa. A mãe tinha que brigar para voltarmos para dentro, tomar banho e jantar. Hoje é diferente. As crianças só querem ficar no celular e não saem mais para brincar. A tecnologia está afastando cada vez mais as crianças”, comenta Thassyani. “Hoje em dia, é muito difícil ver um grupo de crianças brincando de pega-pega, esconde-esconde e tantas outras brincadeiras que fazíamos. A moda agora é só celular”, acrescenta.
Já para Talita Silvério, uma jovem de 20 anos, a falta dessa relação familiar a fez planejar o futuro. “Acho muito importante esses momentos de conexão familiar e sinto muito a falta disso. Na minha infância, não tive muitos momentos para me reunir com meus pais e conversar, mas espero conseguir fazer isso com meus filhos, estabelecer uma regra de todo domingo fazermos algo diferente em família”, afirma a jovem.
Diante desse cenário, surge a necessidade de uma reflexão crítica. Saber como equilibrar os avanços tecnológicos com a preservação das tradições e dos costumes que priorizam as relações familiares. Em suma, a tecnologia, se não for utilizada com cautela, pode acabar destruindo os ensinamentos e tradições deixadas pelos mais velhos.