No último ano, parece que é 1º de abril pelo menos duas vezes por semana no Brasil. É tanta notícia absurda que a gente se espanta com mais frequência do que bebemos água. Isso vale para todas as áreas, inclusive a indústria de carros.
Tem carro com projeto de 1998 (Suzuki Jimny) que teve aumento de mais de R$ 25 mil em pouco mais de um ano. Tem carro usado sendo vendido mais caro que o modelo equivalente zero-quilômetro. Tem gasolina a quase R$ 7 o litro e tem uma das fabricantes mais tradicionais de nosso mercado fechando as portas de suas fábricas.
Nós, jornalistas, temos que escrever todos os fatos a vocês, leitores, independentemente do sentimento, mas o desejo que mais tivemos em tempos recentes foi de que tudo isso não passasse de piada (mesmo que de péssimo gosto, tão ruim quanto o dos marqueteiros da VW que criaram a fake news da “Voltswagen”).
Com vocês, então, as cinco verdades automotivas de 2021 que a gente gostaria muito que não passasse de mentirinha de 1º de abril:
Tem carros que aumentam o preço mais rápido do que vão de 0 a 100 km/h. Um bom exemplo é o Suzuki Jimny de terceira geração, um projeto lançado há 23 anos.
Quando o seu teórico sucessor, o Jimny Sierra, chegou, no fim de 2019, o veterano custava R$ 74.490. Agora, não apenas ele continua em linha como é ofertado por R$ 100.990, com surreais R$ 26.500 de reajuste. Com isso, tornou-se um dos 13 Carros que inacreditavelmente estão custando mais de R$ 100 mil.
Com sucessivos aumentos praticados pelas fabricantes nos últimos meses, consequência da alta do dólar, da pressão inflacionária, do aumento nos custos de produção provocado pela escassez de insumos e pela baixa nos estoques, que tem gerado altas filas de espera entre compradores, o mercado brasileiro começou a viver algumas situações pitorescas.
Por exemplo, o carro mais barato do país, Renault Kwid, não sai por menos de R$ 42.090. E chega a surreais R$ 53.290 na de topo, valor que parece exorbitante para um subcompacto de entrada.
Ainda boquiaberto? Então saiba que o carro automático zero-quilômetro mais barato hoje é o Chevrolet Onix 1.0 Turbo AT, R$ 65.390. E um Volkswagen Gol 1.6 AT já está em R$ 69.930, e passa de R$ 76 mil quando equipado com todos os opcionais. Entre os SUVs, já há poucas opções abaixo de R$ 100 mil e nenhuma por menos de R$ 70 mil.
Essa só poderia ser piada do dia 1º de abril no Brasil. Afinal, parece inacreditável, mas alguns carros seminovos estão custando mais caro que um modelo equivalente 0 km. Por quê?
Devido à pandemia, não é só a produção de carros que vem sendo afetada com paralisações ou redução de capacidade, como também a de diversos setores da cadeia produtiva que fornecem componentes para as montadoras, no Brasil e em todo o mundo.
Isso tem gerado falta de peças, atraso nas montagens e fila de espera por determinados modelos. O consumidor que não quer esperar meses pelo carro novo acaba pagando mais caro por uma unidade seminova disponível a pronta entrega.
Um VW Nivus Highline zero, por exemplo, custa R$ 107.990, enquanto a mesma versão no mercado de usados é facilmente encontrada por até R$ 120 mil. O mesmo ocorre com modelos como Fiat Strada, VW T-Cross e Chevrolet Tracker.
Quem será o próximo a tirar vantagem da demanda para aumentar o preço do seminovo? Acho que o Chevrolet Onix é um bom chute, já que se trata do carro mais vendido no Brasil nos últimos cinco anos e também está com escassez de estoque devido à paralisação nas atividades da fábrica de Gravataí (RS).
Mais de um ano de pandemia, lockdown, fábricas paralisadas, concessionárias com restrição de horário de funcionamento e limite de capacidade, aumento de infrações, dólar em alta, carros ficando mais caros, demissões em massa, o consumidor ficando sem dinheiro e lojas fechando. Esse é o cenário atual da indústria automotiva brasileira.
De CNPJs a CPFs, todos têm sentido os efeitos da pandemia de perto. Empresários se preocupam com os custos fixos, como impostos, estrutura, quadro de funcionários e até quando vão conseguir manter sua empresa sem ter lucro. Já os trabalhadores se preocupam até quando vão ter seus empregos preservados.
Durante mais de um século a Ford produziu carros no Brasil. Neste ano, porém, anunciou que iria fechar as três fábricas no país e tirar de linha seus três modelos de produção nacional, Ford Ka, Ka Sedan e EcoSport, mantendo a operação no país apenas como importadora.
A notícia foi tão chocante que, em um primeiro momento, bem que parecia mais um daqueles títulos enganosos para conseguir visualizações. À medida em que foi ganhando os principais veículos de comunicação, percebemos que infelizmente não era uma pegadinha à la 1º de abril.
Depois de a gasolina passar por seis reajustes só em 2021, atingindo um aumento de mais de 50% no preço em relação ao ano passado, os valores estampados nos postos pareciam se tratar de qualquer coisa, menos do valor cobrado por um litro de combustível. Em algumas regiões, a gasolina chegou a custar R$ 7.
A internet não perdoou e os memes mais criativos começaram a fazer o consumidor rir de desespero. Que desperdice o primeiro litro de gasolina quem nunca deu risada de frases do tipo “com a gasolina a R$ 7 reais, oferecer carona é prova de amizade verdadeira”, ou “um ovo de Páscoa por R$ 60? O que vem dentro, gasolina?”.
Mas o que a gente queria mesmo era uma nota oficial falando que se tratava de uma mentirinha bem adiantada do dia 1º de abril.