Claro que os cidadãos precisam de ruas e rodovias pavimentadas, escolas e universidades, rodoviárias, delegacias, postos de saúde, praças e locais públicos para lazer, e até de velórios para velar os entes queridos. No entanto, a essência do Poder Público passa diretamente por fornecer ao cidadão o pleno exercício da cidadania, o que não acontece quando não se tem o primordial, como documentos pessoais e acesso as informações e serviços básicos.
É sempre bom poder ir e vir, mas se tiver de onde vir e para onde ir é melhor ainda. Falar isso para uma camada da sociedade que estudou em boas escolas e tem o acesso, de uma forma ou de outra, ao básico para se viver dignamente, pode parecer tolo, porém para pessoas que de repente sequer sabem o que quer dizer a palavra cidadania, aí o raciocínio é outro.
A satisfação com quem muitos das mais de 10 pessoas que foram ao Espaço Chico, em Wenceslau Braz, durante o último final de semana demonstra claramente isso. Pessoas saindo do Mutirão da Cidadania, promovida pelo governo do Estado em parceria com a prefeitura do município que recebe, com sorriso no rosto e a certeza de que naquele momento havia dado um passo importante no exercício da cidadania – seja na confecção de documentos pessoais, seja em solução de questões familiares, como casamento, divórcio e até reconhecimento de paternidade, seja em outro segmento qualquer.
Ali um atendimento individual e humanizado levou o Poder Público de fato até a vida das pessoas que procuraram o Mutirão da Cidadania. Não que isso seja mérito das partes envolvidas, porque é obrigação dos governantes proporcionar aos que pagam impostos o direito à cidadania, como já foi dito, porém é um exemplo nítido e muito rico de como isso pode e deve ser feito.
Obviamente que saúde e educação estão sempre em primeiro lugar, mas também olhar com humanidade para as camadas sociais menos favorecidas deve ser uma prática comum de qualquer órgão público.
Se o cidadão não vai até a cidadania, então que o Poder Público leve a cidadania até ele. O Mutirão da Cidadania fez isso, mas não deve ser um movimento isolado, e sim uma prática constante. A sociedade e os senhores eleitos pelo povo e pagos com o dinheiro do povo têm mais que obrigação de atender a população como um todo, desde os mais felizardos, financeiramente falado, até a base da pirâmide social.
Em dias onde o Paraná nunca foi tão eficiente na questão da moradia popular, levando programas habitacionais aos 399 municípios do Estado, e avança significativamente nas questões de geração de emprego e educação, não é difícil prever que em alguns anos os frutos destes números seja uma diminuição generosa do número de pessoas carentes, mas até lá o dever de olhar por todos deve ser sempre muito eficiente, e cada vez mais presente.
A lição que fica é que o Brasil precisa de mais Mutirões da Cidadania, e de menos Copas do Mundo. Que existam mais voluntários para ajudar famílias carentes, e menos voluntários para auxiliar estrangeiros que venham esbanjar seus dólares e euros em terras tupiniquins.