Se isso fosse uma franquia de filmes de Hollywood, com certeza seria a parte 30 ou 40. Infelizmente não é – é a mais pura e cruel realidade das estradas paranaenses, exploradas vigorosamente pelas concessionárias que detém os direitos (e detalhe que muitas vezes são só direitos, e pouquíssimas obrigações) das concessões.
Agora, mais uma vez este tipo de notícia vem à tona. A novela da vez é o Ministério Público Federal contra a Rodonorte, na briga pela duplicação ou não do trecho entre Jaguariaíva e Piraí do Sul da PR-151.
A briga é a seguinte: a Rodonorte já devia ter duplicado o trecho em questão e ter entregue a obra aos usuários. Mas não fez. Por duas vezes a duplicação foi postergada em acordos com o governo e o prazo para a conclusão foi adiado.
Na última manobra finalmente alguém decidiu se manifestar contrariamente – no caso o Ministério Público Federal de Ponta Grossa, que pediu à justiça que a concessionária começasse de fato as obras.
A Rodonorte, por sua vez, se defende dizendo que a obra do entroncamento de Jaguariaíva, ligando as PRs 151 e 092 de forma segura é o primeiro passo para a duplicação, portanto já fazendo o que a justiça determinou.
A concessionária se embasa no fato de que o entroncamento está no projeto da duplicação, e que não é possível “dobrar” as pistas sem primeiro entregar esta obra em Jaguariaíva. Outro ponto da defesa é de que a Rodonorte age de acordo com o cronograma pré determinado pelo governo do Estado e pelo DER.
Na parte prática da coisa, o que se vê nesse e em todos os outros acordos é as concessionárias tentando a todo custo procrastinar a realização de investimentos pesados, mesmo já tendo lucros substanciais desde que foram instaladas no governo Lerner e “reforçadas” no governo Requião, que fez o “favor” ao Estado de dar inúmeros benefícios às concessionárias, permitindo o aumento do prazo para a realização de obras de benfeitorias.
Ou seja, as concessionárias já tinham um prazo que chega a ser ridículo para fazer alguma benfeitoria, e esses prazos foram sempre prorrogados, e enquanto isso o bolso de quem trafega pelas rodovias paranaenses continuam sendo violentados.
Tendo como escudo esses contratos monstruosos, as concessionárias “nadam de braçadas” nas rodovias paranaenses, tendo lucros milionários, a troco de praticamente nada. Isso mesmo. Nas décadas passadas ganhar a concessão de uma rodovia paranaense era muito, mas muito melhor que ganhar sozinho na mega sena.
Agora, depois de tantos prejuízos aos paranaenses, parece que finalmente algo que pelo menos corrige em parte uma grande injustiça pode acontecer, com a Rodonorte sendo obrigada a duplicar os quase 50 quilômetros de Jaguariaíva a Piraí do Sul.
Que isso sirva de exemplo no Estado e que passe a ser uma prática comum. Que mais meios de comunicação tenham a isenção e a coragem de denunciar e publicar abusos nas estradas, como a Folha Extra faz e tem feito regularmente. Que o Ministério Público passe a atuar com mais precisão nesta causa e que a justiça deixe de ser cega para o absurdo que acontece nas rodovias do Paraná.
Há uma luz no fim do túnel. Agora a esperança é que não exista um pedágio no meio do túnel.